terça-feira, 13 de abril de 2010

Inspiração

Vi as éguas da noite galopando entre as vinhas
E buscando meus sonhos. Eram soberbas, altas.
Algumas tinham manchas azuladas
E o dorso reluzia igual à noite
E as manhãs morriam
Debaixo de suas patas encarnadas.


Vi-as sorvendo as uvas que pendiam
E os beiços eram negros e orvalhados.
Uníssonas, resfolegavam.


Vi as éguas da noite entre os escombros
Da paisagem que fui. Vi sombras, elfos e ciladas.
Laços de pedra e palha entre as alfombras
E vasto, um poço engolindo meu nome e meu retrato.


Vi-as tumultuadas. Intensas.
E numa delas, insone, me vi.


(Hilda Hilst)

2 comentários:

  1. Na beira do poço, vive a sombra do Ser.
    No fundo do breu, o que é sem dizer.

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    Belo poema! Pena só ter lido um livro de Hilda Hilst. Mas continuarei.

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  2. Oh, que bobagem. Aquilo não passa de palavras bobinhas...!

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