terça-feira, 25 de setembro de 2012

O nome de minha mãe

Eu acho que tinha 4 pra 5 anos quando descobri o nome de  minha mãe, Janete. Tenho uma lembrança vaga: eu na calçada de casa, e pouco depois do anoitecer, ela me chama.
"O que é, Janete?"
"Uai, mas o que é isso agora? Não me chama mais de mãe, não?"
"Não, ué, já sou grande."
"E quer dizer que gente grande não chama a mãe de mãe, não?"
"Claro que não, gente grande chama a mãe é pelo nome."
E ela me olhava perplexa.
...
Tenho saudades da altivez dos meus cinco anos.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

fotos antigas e posturas antigas

tava pensando que perdi a oportunidade de ilustrar o post anterior, e lembrei dessa foto aqui, que fiz brincando com máquina fotográfica, lá na outra casa que eu morava, há mais ou menos 2 anos atrás. É a mesma época desse desespero com o trabalho acadêmico que falei no post. Acho que ela ilustra bem a época:

quarta-feira, 30 de março de 2011

Tentando entender o que estou fazendo aqui

pois é, voltei. Voltei por que preciso desesperadamente terminar uma monografia, e pra isso, preciso me reapaixonar pelo tema. Não dá pra fazer nada de verdade sem paixão, sem tesão.

É que eu passei muito tempo sem energia pra nada e agora tô sentindo a energia voltando, e terminar a faculdade é uma coisa que tenho vontade de fazer. Só que é uma vontade... bem...é tipo assim, seria bom terminar, tá fácil, só falta a monografia, pelo menos o levantamento bibliográfico tá pronto, e como disse o meu coordenador, ela não precisa ser um trabalho grandioso e assustador, só um "trabalhinho singelo". Tá fácil. Vai ser legal. E o tema da monografia é ótimo! É possível fazer uma coisa simples, modesta, que não seja desgastante, e ao mesmo tempo importante, motivadora.

Mas, cadê A Vontade? Aquela vontade, aquela que leva a gente a, sei lá, viajar de carona, juntar grana pra ir a show, acordar de madrugada pra ver alguém, mandar um email brega. E também, militar por uma causa. Já me senti muito "entusiasmada" com o feminismo acadêmico, e agora tento entender como isso se foi. Se foi no poço sem fundo da academia, onde a gente escreve, escreve, escreve, e só faz juntar poeira nas bibliotecas. Uma perseguição de um conhecimento que nunca chega a lugar nenhum, a gente se especializa num assunto e se afunda cada vez mais nele, só nele. Eu já caí nisso, e me sentia perdida - e incompetente - num turbilhão de coisas pra aprender que sempre se apresentavam a mim como o que me faltava pra poder construir algo muito grande,importante, pedante, massacrante, muito maior do que eu. Uma vida gasta com a bunda na cadeira pra ninguém sequer ler o que foi escrito. Fico muito decepcionada quando pego um livro fantástico e vejo que só eu o peguei emprestado em 8 anos. Parte disso nem é desinteresse das pessoas, é só que tem muita coisa escrita e a gente se perde no meio disso tudo. E outra parte é que nem tudo o que se escreve é tão bacana, é só pra saciar a sede de produção do sistema acadêmico, e encher o Lattes de alguém - alimentando a Ilusão de se vai chegar a algum lugar, se vai conseguir O Grande Trabalho Acadêmico.

Mas também não quero algum trabalho medíocre, que sirva só para encher meu Lattes. Preciso pensar que meu trabalho, mesmo tendo aprendido que ele pode ser um "trabalhinho singelo", vai fazer mais na minha vida que ser mais um item no meu Lattes. Deve ser possível conciliar isso.

***

Talvez eu queira ouvir mais e falar menos. Perseguir menos e parar pra sentir/viver outras formas de...de... seria compreensão das coisas? Produzir menos, dizer menos, e entender mais. Porém, ao mesmo tempo, sinto que tenho muito a dizer. Tenho pensado muito nisso: o porquê , como e o que escrever.


Tenho muito a dizer, mas talvez o problema seja pra quem. Não tenho disposição pra brigar com trolls masculinistas, nem pras picuinhas entre linhas teóricas, nem pra quem se preocupa mais com as normas da ABNT do que com o conteúdo do que to escrevendo. Sei lá, fiquei tanto tempo fora da faculdade que nem me lembro direito o que me incomodava tanto nela. E tô até com medo de relembrar.

Mas enfim, tenho muito a dizer sobre mulheres, feminismo e aborto e to sentindo uma disposição não sei direito pra quê, mas alguma disposição - A Vontade - existe. O desafio agora é conseguir canalizá-la pra construção de algo que me dê prazer de fazer, que me deixe ansiosa por ver pronto, que eu acredite de verdade.

talvez não seja ter coisas pra dizer, mas ter disposição pra entender. Aprender.
Sim, me lembrei. Acho que é isso.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Inspiração

Vi as éguas da noite galopando entre as vinhas
E buscando meus sonhos. Eram soberbas, altas.
Algumas tinham manchas azuladas
E o dorso reluzia igual à noite
E as manhãs morriam
Debaixo de suas patas encarnadas.


Vi-as sorvendo as uvas que pendiam
E os beiços eram negros e orvalhados.
Uníssonas, resfolegavam.


Vi as éguas da noite entre os escombros
Da paisagem que fui. Vi sombras, elfos e ciladas.
Laços de pedra e palha entre as alfombras
E vasto, um poço engolindo meu nome e meu retrato.


Vi-as tumultuadas. Intensas.
E numa delas, insone, me vi.


(Hilda Hilst)

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Epígrafe

"alguns há que estão divididos entre Deus e o Demónio, Como sabê-lo, Se a lei não tivesse feito calar as mulheres para todo o sempre, talvez elas, porque inventaram aquele primeiro pecado de que todos os mais nasceram, soubessem dizer-nos o que nos falta saber, Quê, Que partes divina e demoníaca as compõem, que espécie de humanidade transportam dentro de si, Não te compreendo, pareceu-me que estavas falando do meu filho, Não falava do teu filho, falava das mulheres e de como geram os seres que somos, se não será por vontade delas, se é que o sabem, que cada um de nós é este pouco e este muito, esta bondade e esta maldade, esta paz e esta guerra, revolta e mansidão."

(SARAMAGO, José. O evangelho segundo Jesus Cristo. São Paulo: Companhia das Letras, 2005, p.50 - diálogo entre José e o velho Simeão)

terça-feira, 9 de março de 2010

cumprindo uma promessa pra mim mesma

Este blog é uma promessa antiga, é um daqueles projetos que a gente fala "amanhã eu faço"e nunca faz. E eu tenho muito, muitos desses, mas esse é dos mais especiais pra mim. E é legal ele nascer hoje, dia 08 de março de 2010, dia histórico, de cem anos que essa data se tornou comemorativa, e eu aqui conversando com minha amiga sobre acontecimentos recentes, sobre as cosias que ela leu, sobre aquela doida que matou o Andy Wharol e sobre como Olympe de Gouges podia ser tão foda já naquela época. Sobre brigas de enfrentamento ao machismo que quase viraram "defesa da honra" das mulheres, me fazendo pensar no que eu quero que façam por mim ou não. E sobre por que eu não quis acompanhar a manifestação de hoje. Não é por causa da data que eu estava falando desse assunto, eu falo disso quase o tempo todo, às vezes eu tenho até medo de ficar chata. Mas apesar de falar tanto eu percebi, há muito tempo, que precisava de um meio de organizar as idéias, de melhorar a argumentação, e um blog seria uma ótima ferramenta. Aqui (espero) vou recuperar coisas que aprendi nestes alguns anos de graduação e de militância, e articular com as que eu aprendi na vida mesmo, na minha e nas de outras mulheres. Então, esse blog será bem didático, mas não pra vocês e sim pra mim. Não to aqui pra ensinar nada pra ninguém, e sim pra falar da experiência, da vida, porque, começando, acho que é disso que o feminismo fala, da experiência. Daí, apesar de uma certa birra de blogs onde as pessoas só ficam falando de si mesmas o tempo inteiro, aqui eu não poderei escapar de falar de mim. Reformulando, vou falar de mim de uma maneira que eu possa por em prática o que eu aprendi com o feminismo sobre os lugares de fala,e transformar o ato de falar de mim num ato político, de afirmação de uma perspectiva. E, se a partir daí, eu conseguir enfim explicar do que afinal de contas se trata esse tal de feminismo,não vai ser lindo?


e depois eu explico o porquê do pardal (espero...)